Este vai ser um parto difícil.
Tenho um sem-fim de coisas para te dizer Martinha e não sei como começar.
Escrever para alguém que se cresce a adorar, não tendo porém a certeza que se vai conseguir dizer tudo tim-tim por tim-tim – não é simples.
Nestas alturas tenho a convicção de que há palavras que ainda não foram descobertas.
Disseste-me para escrever só as coisas boas, que assim seria poucochinho…oh minha Martinha como te enganas!
No meu entendimento tu eras perfeita!
Uma alegria permanente e energia estonteante
Uma indiscutível habilidade de persuasão
E tão bonita! Uma beleza singular e feroz (será que me faço entender?)
Cometeste tantas loucuras, viveste tudo tão depressa e com tanta intensidade.
E quando outros se perdiam pelos caminhos vertiginosos que tu conheceste, tu, qual malabarista, percorreste-os com destreza e deixaste-os para trás como se nada fosse.
A vida não te deu muito, e foram tão poucas as vezes em que te ouvi queixar dela – essa malvada. E nem tão pouco penso que querias demais.
Mas merecias mais, merecias tudo – mais não fosse para dares aos teus filhos tudo aquilo que queres. Penso ser das poucas coisas em ti de que não podem restar dúvidas – tu adoras ser Mãe e amas os teus filhos com todo o teu coração – e é tão grande!
És daquelas que pessoas que só pela bondade desmedida que tens dentro de ti, devias ter o mundo a teus pés.
Hoje, já não te vejo perfeita, mas não te entristeças, pois descobri que tal coisa não existe e o melhor de tudo é que continuas linda, divertida, calorosa, continuas única e igual a ti mesma.
De resto não te consigo decifrar
És tudo ao contrário – tens em ti tantos opostos,
Às vezes és tudo, mas não és o suficiente
Preocupas-te tanto, e deixas andar
Mesmo quando estás triste, sorris
És destemida, e morres de medo
Martinha, talvez estejas cansada
Talvez aches que já não vale a pena ou que já não tens força
Mas como posso eu fazer-te acreditar que pode ser melhor?
Como dar-te um pouco de esperança ou um pouco de força para conseguires mais uma vez mudar o teu caminho?
Não posso. Que presunção a minha a querer fazer de Deus!
É a grande ironia da vida – tens tanto dentro de ti para seres tudo, bastava que a vida tivesse sido um bocadinho diferente! Só um bocadinho!
Lamento, mas não vou conseguir escrever aquilo que quero
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