quarta-feira, julho 26, 2006

Isto da arte tem muito (ou nada?) que se lhe diga….

A tendência é considerar Arte tudo o que está em exposição numa galeria, ou mais grave ainda, tudo o que um pequeno conjunto de senhores assim o declara. Gostaria de saber por que meios conseguiram tornar-se os ditadores da Arte, mas essa é outra questão.
Gentinha, com uma grande lata, que nos impinge instalações, pinturas, esculturas, gravuras e outras arquitecturas! Depois é vê-los na passerele, os ditos versados juntamente com aqueles que não percebem um boi da questão – mas fica sempre bem – a apreciar verdadeiros monumentos à nossa tontice!
Mas que critérios são tidos em conta para denominar algo como uma obra de arte?
Faz quase um ano comecei a trabalhar como comercial numa publicação da área – da arte, claro – e graças aos ossos do oficio visitei inúmeras galerias. E digo-vos uma coisa, é de ficarmos de boca escancarada!

Ouvi galeristas irritados porque os portugueses não dão valor à arte em papel!
Só querem saber de pinturas na tela! Mas, e porque é que hão-de dar valor seja ao que for? Porque lhes dá jeito? Bem sei, que o tuga tem uma tendência miserável de comprar o que o Sôtôr diz – mas há um mínimo! Respeitem a nossa ignorância!

Sete Pedaços de Papel - Antoni Tàpies

O que é que faz um quadro com uma pinta (note-se que esta pinta, pode ser um risco, uma curva, um quadrado – qualquer coisa desprovida de qualquer contexto ou significado), ser considerado Arte? Meus amigos, vocês devem ter uma visão “muito à frente”!

Um itinerário para as formas - Adelina Lopes

E mais bonitos ainda aqueles quadros em que só os seres sobredotados conseguem visualizar (viram a peça Arte de Yasmina Reza – pois aquela dos amigos que discutem porque um deles deu uma pipa de massa por um quadro Branco com uma Risca Branca?), pois aqui está meus senhores – mas desta vez a cores!


Nothing to Declare - Luis Paulo Costa

Será que conseguem apreciar a Beleza de este inspirada escultura intitulada “Múrmurio da Floresta”?

Alberto Carneiro

Ouvi histórias do arco-da-velha, algumas com a sua graça “Há 2 ou 3 anos numa exposição no CAE (Centro de Artes e Espectáculos) da Figueira da Foz, um conceituado artista fez uma instalação que consistia numa sanita partida com o respectivo carrasco (leia-se martelo) a seu lado, eis senão quando a senhora da limpeza resolveu varrer os cacos. Olha a ignorante da senhora da limpeza, meteu os senhores do CAE num grande sarilho! Pois claro que o artista queria ser indemnizado por tal perda! O desfecho, não sei, mas sei que é muito bem feito para o CAE que não tinha nada que aceitar expor uma porra de uma sanita, ainda por cima partida! Ainda se a sanita fosse bonita…


Sim, é verdade que somos muitos, aqueles que nunca tiveram qualquer contacto com arte e que os gostos também se educam, mas há que ser razoável, tenho em crer que os senhores que promovem estas obras é que são uns verdadeiros artistas!

Por favor, expliquem-me lá, o que é isso da arte?

Zezé: (explodindo de irritação) Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra! A realidade é que aqui no nosso bairro, nós temos verdadeiras obras de arte a que ninguém dá valor!

Tóni: Devem estar á espera que a malta daqui também esteja à espera de não-sei-quantos mil anos para ter o trabalho reconhecido...

Zezé: É uma injustiça, pá! O que é que interesam lá as pinturas de Foz-Côa, com os animais e o caraças...! Nós aqui temos verdadeiras pérolas, pá! Animais que nem sequer há no talho, pá! Basta ver os símbolos de fertilidade masculina que estão desenhados por todo o bairro, Tóni!

Tóni: Símbolos de fertilidade?

Zezé: Sim, pá, as pilas, pá! As pilas que nós desenhávamos quando éramos putos, pá! Aquilo são verdadeiros tributos à ligação do homeme com a terra, a cena do céu, inspiração divína e coiso... 'tás a perceber?

Tóni: (indignado) Pois é, pá! Niguém dá valor às nossas pichagens!

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